quinta-feira, março 12, 2015

Retomada

Hoje fazem exatamente 1 ano, 8 meses e 4 dias que postei pela última vez nesse blog.
De lá para cá, um grande número de fatores mudou em minha vida.

Vamos começar pelo principal deles: Eu aprendi, ou dei grandes passos em direção ao verdadeiro amor a mim mesma. Me permiti erros e acertos. Me permiti grandes riscos, pessoais e profissionais. Me aprofundei em minhas paixões, em meus conhecimentos, e obtive grandes conquistas.

Na véspera daquele texto tão doído, nasceu o filho de minha querida amiga Wayla, o Erich. Uma criança linda, agitada, amorosa e cheia de vida, que hoje tenho o orgulho de chamar de afilhado. Um presente que a vida me deu.

Por volta daqueles dias, surgiu uma promessa de um acalentado sonho: uma viagem ao Japão. Ainda não tinha o dinheiro, só a promessa e a determinação. Se seria a turismo ou estudo, eu que iria decidir. Queria ir para estudar, mas não sabia quanto tempo tinha e para quanto tempo meu dinheiro daria. Me aprofundei em pesquisas e mais pesquisas, simulações, projetos, estudos... Ao longo dos oito meses seguintes foi quase uma gestação.
Fiz meu próprio plano de viagem, pesquisei passagens, hospedagem, cursos, acompanhei variações do câmbio do dólar, e estudei muito a língua japonesa . Através disso, em dezembro daquele ano conquistei meu Nouryoku Shiken N5, o nível mais básico da proficiência em língua japonesa.

No Natal, meu pai me presenteou com uma quantia que, juntamente com aquilo que juntei com meu trabalho e com uma ajuda significativa de minha mãe, tornou a viagem prometida e tão cuidadosamente planejada, financeiramente viável. Corri, então, atrás da documentação. Quando as coisas acontecem na hora certa, tudo conspira a favor: Não tive nenhum problema, consegui os vistos necessárias, assim como a passagem a um preço excelente.

Inquieta com minha profissão, meu salário  meu emprego, e com o limitador que este me traria nessa viagem tão importante, em termos de tempo, decidi cortar essa amarra. Me desliguei da empresa na qual havia ingressado recém-saída da faculdade, e onde aprendi muito.

Chegando perto da partida, ainda não havia definido o que faria durante minha estadia. Por um precioso conselho do meu primo, Paulo, que me deu pouso na terra do sol nascente, optei por explorar o país por mim mesma. Sem guias, sem agência, sem excursões... E sem as amarras que um curso me traria. Explorarei mais sobre essa viagem em outro momento, pois muito há a ser dito.

Retornando ao meu país, levei cerca de um mês para voltar à vida. Me permiti um lento reajuste ao fuso-horário, embora no Japão este ajuste tenha durado poucos dias. Me permiti cerca de um mês de inércia. Então comecei a tentar trilhar outro caminho: experimentei a vida de freelancer. Foi satisfatório por um tempo, embora os ganhos tenham sido abaixo do que eu esperava. Com a chegada da Copa do Mundo, e o país à beira de uma crise, realmente não devia ser o melhor momento para essa tentativa. Meu desapontamento profissional permaneceu, e até aumentou, assim como minha insatisfação, embora esse momento tenha me dado alguns prazeres, como conhecer a Alessandra, profissional amada com quem adorei trabalhar e continuarei a fazer parceria tanto quanto ela quiser, além do reconhecimento de competência, quando a empresa com a qual eu trabalhava me chamou para cobrir as férias de uma funcionária, e até para voltar a trabalhar lá, embora essa negociação não tenha funcionado. Minha perspectiva salarial tinha mudado demais para voltar atrás.

Na verdade, tudo em mim mudou demais. Eu não retomei a terapia quando voltei, não senti necessidade. Buscando ser persistente na vida de freelancer procurei mais contatos, e acabei conseguindo um emprego em uma empresa bem perto da minha casa, onde trabalho com ótimas pessoas, onde voltei a sentir alguma satisfação com o design, ao finalmente conquistar ganhos que vem compensando o trabalho. Eu consegui mais alguns clientes particulares, também, e o estresse com a profissão se mostrou desgastante em certo ponto. 

Me aprofundando na análise de mim mesma, vi que poderia tentar trilhar outro caminho. Desse modo, fui atrás de uma outra paixão: Pesquisei e me matriculei em um curso de Confeitaria Profissional. Este curso está agora prestes a começar.

Também descobri e estou explorando, a passos dedicados porém cuidadosos, a paixão pelo meu corpo. Estou descobrindo o melhor modo de cuidar dele, tanto em aparência quanto em saúde.

Escolhi esta data para retomar esse blog por ela ser significativa para mim. Hoje, completa-se um ano que deixei o Brasil pela primeira vez. Um ano que parti atrás de um grande sonho, e de uma
grande aventura. E decidi que hoje retomaria meu blog, onde pretendo passar a abordar todos estes aspectos que montam o quebra-cabeças chamado Camila, todas as pecinhas que estão me guiando na trilha do amor a mim mesma.

quinta-feira, agosto 08, 2013

Feridas não curadas

Aviso, antes de mais nada, que essa não é uma postagem feliz. Ela é pesada, difícil de ser lida, mais difícil ainda de ser escrita. Mas é absolutamente necessária. A aceitação é uma parte importante do processo de cura. Só se consegue falar abertamente de momentos difíceis e dolorosos quando se passa a aceitá-los. No processo de aprender a me amar, acho importante falar de tudo, inclusive do que houve de pior na minha vida.
Portanto, família, sim, estou me expondo muito. Expondo minha mais profunda ferida, pseudo-cicatrizada, mas que se reabre ao menor toque.
Família e amigos, sim, esse texto pode ter um toque pessimista. Me permitam isso, se a crítica for essa, guardem para vocês. Eu preciso disso, preciso ter esse direito. Se não quiser, não leia. Não julgarei ninguém por isso. Se for ler, leia tudo.

Batalhei por dias para iniciar esse texto. A vontade de escrever iniciou-se numa comemoração do meu aniversário. Duas grandes amigas, do tempo do ensino fundamental, estavam aqui, no maior papo. Inevitavelmente, a coisa voltou-se ao colégio e ao tempo em que nos conhecemos. Embora eu as ame, aqueles foram os piores anos da minha vida. Mesmo comparados ao último ano da vida do meu tio, e ao começo do tratamento do Júnior.

Fui vítima de bullying, e isso ainda hoje afeta muitos aspectos da minha vida. Antes de me aprofundar em minha experiência, uma breve conceituação. Os textos que vou usar aqui foram retirados do Brasil Escola e da Wikipedia.

O que é o bullying
Você provavelmente já viu, ou até compartilhou no Facebook, uma imagem dizendo que, na infância, colocava apelidos e era chamado por apelidos, nem por isso sofria bullying, ou algo do tipo. Pois é, não mesmo, pois bullying não é isso. E não é algo a ser minimizado ou menosprezado.
Bullying é um termo da língua inglesa (bully = “valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou poder.
Ou seja, se não te causava dor e angústia, não era mesmo bullying. Era brincadeira. E se uma vez te chamaram de algo que te fez sentir assim, mas nunca mais, também não chega a ser bullying. Esse tipo de agressão é algo diário.
bullying se divide em duas categorias: a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os agressores masculinos e b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima.
Este isolamento é obtido por meio de uma vasta variedade de técnicas, que incluem:
  • espalhar comentários;
  • recusa em se socializar com a vítima;
  • intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima;
  • ridicularizar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc).
 bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos. Há uma tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas.
As pessoas que testemunham o bullying, na grande maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, sem exceção, são afetados negativamente, experimentando sentimentos de medo e ansiedade.
Ou, por vezes, as testemunhas sentem que algo está errado, mas não tem a real noção do quão errado, já que é aquela a situação que vivem. O "normal". E, de todo modo, não sabem lidar com aquilo. Não sabem como ajudar.

As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.
No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com alunos de escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são: Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.

Como de dá o bullying
Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os outros. Alguns exemplos das técnicas de assédio escolar:
  • insultar a vítima;
  • acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada;
  • ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
  • interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc, danificando-os.
  • espalhar rumores negativos sobre a vítima;
  • depreciar a vítima sem qualquer motivo;
  • fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando-a para seguir as ordens;
  • colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully;
  • fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal,orientação sexualreligiãoetnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência;
  • isolamento social da vítima;
  • usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbullying (criar páginas falsas, comunidades ou perfis sobre a vítima em sites de relacionamento com publicação de fotos etc);
  • chantagem.
  • expressões ameaçadoras;
  • grafitagem depreciativa;
  • usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com frequência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma "vítima perfeita");
  • fazer que a vítima passe vergonha na frente de várias pessoas.

Bullying professor-aluno

O assédio escolar pode ser praticado de um professor para um aluno. As técnicas mais comuns são:
  • intimidar o aluno em voz alta rebaixando-o perante a classe e ofendendo sua autoestima. Uma forma mais cruel e severa é manipular a classe contra um único aluno o expondo a humilhação;
  • assumir um critério mais rigoroso na correção de provas com o aluno e não com os demais. Alguns professores podem perseguir alunos com notas baixas;
  • ameaçar o aluno de reprovação;
  • negar ao aluno o direito de ir ao banheiro ou beber água, expondo-o a tortura psicológica;
  • difamar o aluno no conselho de professores, aos coordenadores e acusá-lo de atos que não cometeu;
  • tortura física, mais comum em crianças pequenas; puxões de orelha, tapas e cascudos.

Minha história

No caso, o bullying que sofri foi do tipo indireto. A maior parte das agressões, até onde sei, vinha das garotas, através de difamação, apelidos perjorativos, isolamento social, esbarrões intencionais, entre outras atitudes focadas em fazer com que eu me sentisse mal. Digo até onde sei, pois minhas amigas dão a entender que a coisa é muito pior do que eu sei, e eu já achava horrível.

No meu discernimento, também sofri algum grau de agressões de professores, mas não afirmo de modo categórico pois, na época, eu já estava sob tal abalo psicológico que podia estar vendo as coisas da forma errada.

Obviamente a coisa talvez não tivesse sido tão ruim se não houvessem fatores externos. Vou expô-los.

Eu era uma criança sozinha. Não conhecia crianças da vizinhança, pois tinha me mudado de um prédio para uma casa, em outro bairro, sem conhecer ninguém, aproximadamente seis meses antes do começo da quinta série, época em que minha vida virou um inferno. Meus pais estavam com problemas no casamento, que eventualmente os levou à separação em um momento dentro dos três anos durante os quais fui agredida. Eu era muito mais velha que meus primos e minha irmã.
Desse modo, eu era uma criança cujos pais brigavam muito, portanto, não podia ir atrás deles por socorro. Não sabia fazê-lo.
Eu não tinha amigos. Meus primos e minha irmã eram novos demais para me ajudar em qualquer coisa.
Se meus pais não podiam me ajudar, que adulto poderia? Nunca pensei em recorrer aos meus tios.

Eu acordava cedo. Muito cedo, todos os dias. Tinha que estar na escola às 7h10, 6h30 estava pronta. Mas minha mãe não, por isso eu sempre chegava atrasada. Isso me deu uma má fama na escola. Os atrasos eram dela, a fama, minha.

Eu era uma criança, talvez um pouco diferente. Ao passar para a quinta série, não abandonei interesses antigos. Eu gostava, muito, de animes. Minha paixão, obsessão e, possivelmente, único interesse. Claro. Eu não convivia com outras crianças da minha idade. Não sabia no que se pensava. Não vi a necessidade de mudar de ano escolar e repentinamente abandonar o que eu gostava no ano anterior e passar a pensar em unhas, maquiagem, garotos, beijar na boca.

Eu estava acima do peso. Sempre fui cheinha. Normal. Mas não na minha escola elitista.

Tudo isso somado me tornou um prato cheio. Apelidos aos montes. Pessoas me ridicularizando. Isolamento. E sem ter quem me socorresse, dentro ou fora da escola.
Dentro da escola, claro, nada estava acontecendo. Eu não era boa aluna. Sempre chegava atrasada. Minhas notas estavam caindo. Com o passar do tempo, comecei a faltar demais.
Fora da escola, pais com muitos problemas próprios para notarem minha mudança. Ou ao menos notarem que existia algo a mais por trás dela. Problemas próprios dos quais, por sinal, eventualmente passei a me culpar. E nenhum outro adulto a quem eu soubesse que podia recorrer.

Com o tempo, o avançar desses três anos, ganhei mais peso. Minhas notas desabaram. Eu fiquei desleixada a níveis extremos. Virei uma pessoa ainda mais introvertida. Matava aula sempre. Me tornei depressiva, aos 11 anos de idade. Chorava sempre, por tudo e por nada. Queria morrer. Aos finais de semana, ficava conectada à internet todo o tempo possível, para fugir de tudo aquilo. Arrumei um namorado, pela internet. Um rapaz de São Paulo. Não ajudou em nada. Aparentemente, até piorou o que se dizia a meu respeito, pelo que soube recentemente. Quando chegava o domingo, queria me matar, só de pensar que no outro dia teria que voltar para . Ver eles. Tudo de novo. Constantemente matava aula na segunda.

A coisa piorou, e passei a querer tirar minha vida constantemente. Nunca tive a coragem de tentar realmente... Mas eu queria morrer. Muito. Acho que, se eu tivesse encontrado um modo de fazê-lo na escola, de afetar diretamente aquelas pessoas, talvez o tivesse feito. Mas era tão ingênua, tão criança, que não soube buscar a informação de como fazer isso.

A pseudo-superação
O ápice das coisas foi na sétima série. Imagino que nessa altura as agressões tenham diminuído, ou até parado. Mas não fazia diferença. Eu já me sentia vazia. Um nada. Uma inutilidade que devia ser varrida da Terra. Chegava a pensar que, se eu morresse, todos seriam mais felizes, a começar pelos meus pais. Eu não tinha forças ou ânimo para nada. Se não me engano foi quando fiquei tão inegavelmente mal que me colocaram na terapia.
Nesse ano, cheguei muito perto de ser reprovada. Eu, que era inteligente, por muito pouco não tomei bomba. Por pura falta de motivação. Pelo que sei, as pessoas na escola começaram a perguntar aos meus poucos amigos o que estava acontecendo comigo. Risível, não?
Foi quando finalmente minha mãe resolveu me tirar da escola. Não antes que eu tivesse que ouvir da diretora que minha terapia, que tinha grande parte na minha sobrevivência, era diversão e devia ter menor importância do que a escola e seus deveres de casa quilométricos. E ainda assim tenho grande admiração pela falecida diretora da escola. Vai entender.

Quando mudei de escola, o mundo mudou. No novo colégio, eu era simplesmente uma pessoa normal. Tinha alguns amigos. Tinha pessoas que não gostavam de mim, pessoas que gostavam de mim, pessoas para as quais eu não fazia a menor diferença. O normal. Que paraíso era a normalidade!

A terapia passou a fazer efeito. Eu já não tinha tantos pensamentos suicidas. Mas não conseguia interagir muito com os outros. Medo.

Conheci e criei amizade com o Júnior. Ao longo daquele ano, terminei meu namoro anterior, e comecei a namorar com ele, que hoje é meu noivo. Emagreci, sem grandes esforços.

Com o passar do tempo, as notas subiram. Eu tinha passado a ter um bloqueio com matemática, mas no restante, melhorei demais. E fui bloqueando aqueles anos ruins. Conhecendo pessoas novas, pessoas legais. Pessoas mais velhas que eu que são ainda mais fissuradas nas coisas que gosto, pelas quais eu era desprezada antes! E são N-O-R-M-A-I-S!!! Preservei, tanto quanto possível, as poucas amizades que eu tinha antes. Tesouros encontrados em meio ao inferno.

Posteriormente mudei de escola novamente. Nessa era mais fácil conviver com as pessoas, turma pequena. Não me restam muitos contatos dessa época, quase nenhum evoluiu a uma amizade, mas a coisa era tão... normal. Leve. Tirei notas boas, cheguei a ganhar um desconto na mensalidade por não tirar nenhuma nota abaixo de 70. Uau.

Então porque pseudo-recuperação?

Minha vida mudou da água para o vinho. Mas aqueles anos deixaram grandes marcas. Ainda lido com a depressão. Eu bloqueei aquele período na minha cabeça, prova de que não o superei. A menção à escola, as pessoas, ao bullying, em um ambiente no qual me sinto amada e acolhida, quase me levou às lágrimas. Estou há 5 dias remoendo tudo isso. No dia seguinte à tal conversa, perdi o sono pensando no passado.
Hoje, há quem diga que falo demais. Muito provável. Reflexo dos anos calada. Tenho dificuldade para enturmar em ambientes novos, com pessoas novas. Medo de ser novamente agredida. Detesto competitividade direta. A escola estimulava a competitividade, e uma estratégia básica é diminuir seu concorrente. Pessoas que falam comigo de modo mais ríspido ou perjorativo, ainda que de brincadeira, me relembram daquilo tudo e me afetam de modo absurdo. Ainda sofro de depressão, e faço tratamento para isso. Devo ter que fazer pelo resto da vida.

Já sei que alguém vai querer dizer "Isso é passado, deixa para lá." Tentei, mas se o passado ainda te afeta negativamente com certa frequência, ele não é passado.

Essa semana, pela primeira vez, levei esses fatos ao meu psicólogo, depois de um ano e meio de tratamento. Por quê? "Você é muito negativa, só fala de coisa ruim, é muito pessimista! Devia falar só de coisa boa!" Mas se eu bloqueio, não falo e não trato o que eu vivi de pior, como vou tirar isso de mim para ser mais positiva e dar mais espaço a coisas boas? Pois é, né.

"Você é linda, é amada, devia ser feliz!"  Obrigada! E eu sou! Mas essas coisas me impedem de ser mais feliz. De ser plenamente feliz. Deixar as pessoas saberem o que passei, e aprender a lidar com isso tudo, pode me ajudar a ser mais feliz. Então me deixa ser negativa, pois isso pode ser o meu caminho para ser positiva e feliz, de verdade!

Achei importante deixar as pessoas saberem mais sobre mim. Sobre o que passei. Gostaria muito que certas pessoas, entre elas alguns dos meus bullies lessem isso. Talvez me dessem uma resposta.
Pois até hoje me pergunto as seguintes coisas:

  • Como nenhum adulto percebeu o que estava acontecendo?
  • Por que ninguém me ajudou?
  • Será que eles sentem algo referente ao que me fizeram?
  • Será que se lembram do que fizeram?
  • Teriam algo a me dizer?
Acho que são mais perguntas sem respostas. Mas no fundo tenho a esperança de que não sejam.

terça-feira, setembro 04, 2012

50 dias

Já se passaram todos esses dias desde a minha cirurgia. Se foram 14,2kg! Uma enorme vitória, 29,6% da minha meta de emagrecimento.

Ainda estou me adaptando, descobrindo quais alimentos caem bem ou não, aprendendo a velocidade que devo comer e as quantias corretas.

Como não poderia deixar de ser, já vomitei algumas vezes: uma por comer o que não devia (maionese), uma por comer rápido, com pressa, e uma que não tenho certeza se comi algo que não caiu bem (suspeito da beterraba) ou se por comer além do que deveria. Também já tive dumping, bem leve, apenas enjôo, dor de cabeça e vermelhidão. Foi com damasco seco, o que me frustrou um pouco, pois já havia comido antes sem problemas. Tenho engasgado com carnes mais secas, principalmente de frango, mas isso também é comum.

Os problemas como chateação, frustração e tristeza ocasionais permanecem. Isso também é difícil de se evitar, e faz parte da recuperação. As tentações existem, estão por todos os lados. Comer na rua é uma tortura, pois vejo muitos alimentos que gostaria de comer, mas ainda não devo. Vejo pessoas bebendo refrigerante, algo que sinto muita falta, e fico morrendo de vontade, mas sei que não está na hora.

E enfrento tudo isso quase diariamente, pois além de muitas vezes ter que comer na rua, com minhas 6 horas de estágio acabo precisando lanchar fora com alguma frequência.

Mas sei que tudo isso é pelo meu bem. Porém fico ansiosa para completar os 6 meses de cirurgia e poder voltar à vida normal. Poder comer doces ocasionalmente, poder experimentar refrigerante, nem que seja para ver que não vale a pena. Estar com o estômago totalmente cicatrizado e deixar de ter tanto receio de ter ruptura de pontos internos.

Mas fico extremamente chateada quando comento esse tipo de coisa e escuto respostas como "Não pode! Assim vai jogar a cirurgia fora!" ou "Não, você nunca mais vai comer como antes!"

Por mais que seja por zelo, preocupação e amor, incomoda que as pessoas não sejam capazes de entender que, dentro de algum tempo, poderei fazer tudo o que uma pessoa normal faz, ter uma vida normal, inclusive em termos alimentares. Não significa que vou voltar a comer como antes. Por acaso eu tinha uma vida normal? Óbvio que não! Minha relação com a comida era doentia!
Mas após os seis meses, poderei comer de tudo! Porém de forma moderada, saudável.

Para encerrar, meu primeiro antes e depois


             Dia da cirurgia 16/07                                                            Dia 30/08

sábado, agosto 11, 2012

Sentimentos em ebulição

Estou com 26 dias de cirurgia, e hoje tive um dia bem fora de padrão.

Voltei às aulas de japonês, fui a um show de tarde, com minha mãe, minha irmã e o Cláudio, e o Júnior está internado.

Desde a última postagem, já li um livro e meio, e já fui ao cinema! Ótimo para alguém que mal estava conseguindo ler três páginas, não?

Meu aniversário foi no domingo passado, e passei a tarde vendo alguns de meus filmes favoritos da Disney com meus primos João Lucas e Luizinho, minha mana,futura madrinha melhor amiga Bárbara Traicy, minha irmãzinha, minha cunhadinha e meu noivo, claro. Assistimos A Bela e a Fera, O Corcunda de Notredame e Hércules. Foi um dia bastante gostoso.
Como era o primeiro dia da dieta pastosa, resolvemos ousar um pouco: o café da manhã foi uma torrada com requeijão, meio copo de suco de laranja e alguns biscoitinhos diet. O almoço foi suflê de palmito, de tarde meu lanche foi um cupcake diet que minha mãe fez, e jantei um macarrão bem cozidinho. Me dei bem com a nova dieta, exceto por um ligeiro mal estar no almoço, por ter comido meio rápido.

Mas voltando ao dia de hoje. Estou com meus sentimentos bastante balançados, por múltiplos fatores.
O Júnior internou, como eu havia dito, e não será uma internação de um dia. Como a internação atrasou, os exames já haviam vencido, de forma que terão que ser repetidos, acrescentando um dia à internação. E se ele não estiver no peso correto, acima dos 60kg, terá que tomar a medicação de duas vezes, o que significará mais um dia no hospital. E, recém operada, não me atrevo a passar as tardes em uma enfermaria da Santa Casa de Saúde, e colocar a minha saúde em risco. Ou seja, ficarei sem sequer vê-lo enquanto estiver no hospital.
E como passei grande parte do dia na rua, fiquei exposta a diversas tentações alimentares. Isso me levou a ficar muito frustrada, tanto com todas as restrições pelas quais estou passando, pois ainda estou na dieta pastosa, quanto por ter chegado a tal ponto de peso que se fez necessário fazer essa cirurgia.
Eu sei que é para o meu bem, eu sei que é temporário, eu sei que vai valer a pena. Também sei que esse tipo de sentimento é coisa passageira. Mas ele existe, e está incomodando.

Segunda-feira minha situação deve ficar menos pesada, pois terei minha primeira consulta com a nutricionista Juliana Papini, e espero que ela me ajude a encontrar variedades para o "tédio alimentar" no qual a gente invariavelmente acaba caindo durante essas dietas, e me ajude a lidar bem com a dieta branda, que iniciarei em breve. Em especial, espero que ela me ajude com os dias nos quais terei que comer na rua. Terei, porque duas vezes por semana terei aulas pela manhã, e de lá irei para o estágio, sem ter como passar em casa. E tem o próprio estágio, cuja duração é de 6 horas, de forma que terei que fazer 2 lanches por lá, para manter a alimentação a cada três horas.


PS.: Depois atualizo o post com fotos do aniversário

sexta-feira, julho 20, 2012

Sobre os primeiros dias

As dores vem, e incomodam mesmo. E a vontade é ficar na cama, mas não pode! Quanto mais ficar na cama, mais gás acumula, e mais dor você sente. Andar e ficar sentado é obrigatório para você se sentir bem, não opcional.

Mas as dores vão abrandando, cada dia dói um pouco menos. Acredito que completarei uma semana quase sem dores.

No começo o sono é complicado de conciliar, só hoje, no quarto dia, fui acordar depois de uma boa noite de sono. No entanto, de noite, antes de dormir, veio uma dor tensa. Cheguei a tomar tilex! Mas não era nada de mais, e logo passou.

A alimentação é muito fácil, fora uma ou outra tentação, que só de pensar em colocar na boca me dá resistência. É vital seguir a dieta, e o tenho feito direitinho.

Concentrar é outra tristeza, mal conseguir ler três páginas do meu livro, e nem ver filme. Não consigo ficar parada na mesma posição tempo o suficiente.

quinta-feira, julho 19, 2012

Fora do hospital

A cirurgia foi tranquila, e rápida, pelo que me disseram. Passei dois dias no Biocor, tendo alta ontem de noite. Vim para a casa da tia Liz, onde ficarei por alguns dias.

Até ontem, fiquei meio desorientada com as dores, não e preparei o bastante para elas. Hoje já notei que elas diminuíram. Ainda estão aqui, mas menores. A vontade é de ficar na cama,mas isso aumenta o acúmulo de gases, e as dores, então vou dar um jeito de passar o dia acordada e sentada.

Estou satisfeita por ter tomado essa decisão, embora eu vá fcar ainda mais realizada quando as dores sumirem!

domingo, julho 15, 2012

Enfim, quase lá!

Minha cirurgia será amanhã, às 13h, no Biocor.

Estou muito ansiosa, e muito feliz!

Fiz todas as despedidas que quis: tomei refrigerantes, fui a um rodízio de massa, a um festival de comida japonesa, tomei sorvetes (apesar da sensibilidade nos dentes), comi doces até enjoar... E fiquei impressionada ao constatar que quase nada disso vale tanto a pena. Posso até sentir falta, mas não vai ser tanta assim.

Também já montei minha malinha para a internação.

Lista:

-Duas camisolas/ pijamas confortáveis Ok, comprei com bastante antecedência
-Um robe/roupão Ok, vó Ivelly e tia Leslei providenciaram
-Escova e pasta de dentes Ok, vó Ivelly me deu
-Shampoo, condicionador, creme, escova de cabelos Ok
-Modelador Yoga Ok, comprei sexta
-Meias anti-trombo Ok, tia Liz me deu
-Roupa íntima para 3 a 4 dias Ok
-Livros Ok, Game of Thrones preparadíssimo!
-Palavra cruzada Ok, vó me deu
-Fé e Confiança de que vai dar tudo certo OK!!!

Quanto às meias, está sendo mega difícil achar para o meu tamanho. É fogo. Mas é uma das últimas vezes que passarei por isso.

Ontem fui à missa com a minha avó, e o padre me deu a Unção dos Enfermos. Era o último toque que faltava, acredito.

Na segunda tenho que estar no hospital às 12h, e ainda tenho coisas a fazer de manhã. Deus me ajude!